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Entre idas e vindas do destino, casal tocantinense se encontra e celebra o amor em casamento promovido pelo Poder Judiciário

A história do casal é destaque da folhinha de Julho no calendário institucional 2024

03/07/2024 16:22 Por: Isis Coutinho

“Foi a realização de um sonho mesmo. Fui em várias casas de noiva, em Palmas, com minhas irmãs e minha filha, todas sempre juntas comigo até encontrar o vestido ideal. E o André, em Paraíso, fazendo a prova do terno dele, experimentava e mandava foto pra gente. A nossa caçulinha quem escolheu”. O relato é da cuidadora Débora Ferreira Moura, 41 anos, completados no dia desta entrevista (11/12), ao falar sobre a realização do sonho de se casar na igreja, desejo que ganhou ainda mais sentido ao conhecer o pedreiro André Alves da Silva, 42 anos, e se tornou possível graças ao Poder Judiciário do Tocantins (PJTO). 

Juntos há cinco anos, Débora e André oficializaram a união no dia 27 de outubro de 2023, em casamento promovido por meio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) de Porto Nacional, na Igreja Evangélica Ministério Acácia, em Luzimangues.

Foi muito emocionante, uma experiência pra vida toda”, destaca. “A gente não ia dar conta de fazer o que fizerem por nós, por isso, quero deixar meu muito obrigada a todos. Foi maravilhoso!, enfatiza.

A história do casal é destaque da folhinha de Julho no calendário institucional 2024. O produto, juntamente com a agenda, faz parte do kit comemorativo dos 35 Anos do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) e traz uma série especial com homenagens a pessoas que contribuíram para a construção da história da Casa de Justiça. As 11 histórias estão publicadas no site do TJTO e o acesso pode ser feito pelo QR Code disponível em cada mês do calendário.

Resiliência, o caminho percorrido pelo casal

Dona de um sorriso largo, Débora é extrovertida, desinibida e comunicativa. Já André é mais contido, reservado e sereno, mas acompanha a esposa sempre com um sorriso no olhar, transmitindo-lhe cumplicidade e fazendo valer a máxima de que os opostos se atraem.

Quem vê a alegria estampada no rosto de Débora não imagina as agruras às quais ela já enfrentou na vida. De uma família de nove irmãos, sendo sete mulheres e dois homens, cresceu vendo as dificuldades enfrentadas por uma pessoa com deficiência. Seu pai, João Moura, só tinha um braço, situação que não lhe impediu de tocar a vida e criar os filhos ao lado da esposa, Maria Souza.

“Eu sofri muito. A gente era uma família muito pobre. Nasci em Tocantínia (TO), fiquei lá até 7 anos de idade, quando viemos para Paraíso. Depois disso, meus pais compraram uma casa em Luzimangues e a família veio pra cá. Quando meus pais faleceram, voltamos pra Paraíso”, conta.

“Meu pai com apenas um braço só para criar essa família toda, era só ele e minha mãe. Nós sofremos muito. Quando meu pai resolveu ir para Paraíso, a gente sofreu novamente, porque a gente não tinha onde morar, e fomos para uma área verde”, relata Débora.

“Meu pai, minha mãe e as minhas irmãs mais velhas tinham que fazer adobe. Eles amassavam o barro num barreiro, enquanto minhas irmãs faziam o adobe com meu pai, minha mãe levantava a nossa casa toda de barro”, ressalta, lembrando o sofrimento. “A gente sofria muito. A enxurrada vinha, botava tudo em cima de uma mesa, em cima das camas. Foi muito sofrimento, mas graças a Deus a gente foi crescendo, uns foram trabalhando, outros foram saindo para outros estados pra trabalhar, foram ajudando a minha mãe e a gente construiu uma casa de tijolo, bloco mesmo”, continuou o relato de sua vida. “Minha mãe trabalhava como lavadeira e meu pai de guarda, então a gente foi crescendo, cada um foi tomando o seu rumo, e hoje estamos aqui.”

Além do pai, que possuía limitações por ter apenas um braço, Débora tem ainda um irmão com deficiências física e mental, de 35 anos, que foi cuidado por ela até conseguir um emprego de cuidadora de um homem de 49 anos, com deficiência física, em Paraíso, onde moram. “Eu precisava arrumar emprego para aumentar a fonte de renda da casa, e trabalhando fora, eu não conseguia dar a atenção necessária que meu irmão precisa, por isso, agora ele está sob os cuidados do meu irmão caçula”.

Mas viver ao lado de pessoas com deficiência não foi empecilho para ela. Na verdade, foi lição para a vida, cunhou a mulher resiliente, capaz de se reinventar e se superar perante as adversidades encontradas no caminho. Ela não se deixa abater. Aos 29 anos veio o primeiro diagnóstico de câncer de pele. Há dois anos, o câncer apareceu novamente, dessa vez no útero. Mulher de fé, da igreja Congregação Cristã no Brasil, hoje Débora está totalmente curada e é só gratidão a Jesus.

Eu sofri muito na minha infância e na minha fase adulta também enfrentando o câncer duas vezes. Mas hoje eu sou muito feliz. Estou casada, sou realizada. Tenho meu esposo, meus filhos, quatro filhos, quatro netos. Sou muito feliz, muito, muito feliz.

Com André não foi muito diferente. Filho único, de pai vaqueiro, seu Pedro, e da lavradora Ricardina, que vivem em Marianópolis, ele foi criado na fazenda, ajudando o pai na lida da roça e não teve oportunidade de estudar. Hoje, é capaz de ler o suficiente para entender os projetos, mas não consegue escrever.

“Se for para mandar uma mensagem no celular, só mando áudio, só vou no microfonezinho. Pra ver um filme, eu pergunto como escreve o nome e a Débora vai falando as letras e eu vou escrevendo”, conta. “No começo até tentei estudar, mas era complicado demais e desisti. Minha vida também foi muito sofrida. Fui criado em fazenda, trabalhando de vaqueiro mais meu pai, trabalhei no garimpo, em Santa Rosa, Monte do Carmo e Natividade, e com 30 anos comecei a trabalhar de ajudante de pedreiro, porque meu tio falava que pedreiro todo lugar que chega tem serviço, até mesmo em fazenda, onde eu estava acostumado, eu ia encontrar serviço”.

Uma mãozinha para o destino

André é natural de Porto Nacional e Débora de Tocantínia. A vida deles percorreu os mesmos caminhos por diversas vezes, mas por ironia do destino, nunca se cruzava. Débora e André já moraram na mesma época em Tocantínia e Luzimangues, mas foi em Paraíso que Débora resolveu dar um jeito de se aproximar do homem da sua vida.

Ele viveu em Tocantínia até os 11 anos, quando foi para Taquaruçu. Marianópolis foi o próximo destino, seguido de Luzimangues e Paraíso, onde, enfim, conheceu sua esposa. “Só eu conhecia ele, André nem sabia da minha existência. Eu vi ele e achei bonito e ficava perseguindo ele nos lugares, olhando ele de longe, aí passou um tempo, uns cinco anos, e um belo dia eu encontrei ele em Paraíso. Eu o vi de costas e pensei, aquele ali é o meu. Nos aproximamos, começamos a conversar e, depois, eu bati na porta dele. Veio o namoro e estamos aqui até hoje”.

"Quando fiquei sabendo do casamento comunitário, liguei para minha sogra e pedi a mão do André em casamento e ela de cara aceitou".

Débora perdeu os pais nos últimos anos, a mãe em 2022 e o pai em 2016, ambos por complicações cardíacas. Conduzida por seu irmão caçula, Jales, e pelo filho Bruno Felipe. Agora casados, nesta união 1+1=13. Além do casal, são três filhos de André, mais quatro filhos e quatro netos de Débora.

“A gente nunca consegue ficar sozinho, sempre tem gente em casa, nossa casa vive cheia de filho, de menino, aquela bagunça que às vezes a gente tem que dá uns gritos pra colocar ordem, mas é bom. As crianças, meus netinhos amam o André a ponto de chamá-lo de pai, só querem ficar com ele”, fala Débora.

O casal celebra o amor vivendo em Paraíso!

 

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